Noiserv – Entrevista

Esta entrevista, realizada em 2021 é, agora, mais do que conveniente. Fica a conhecer melhor aquele que será o cabeça de cartaz do Poço de Noção 2024. Ei-la:

1 – Olá David, como estás? Sentado e bem, espero. Noiserv é uma espécie de “version”, só que lida de forma invertida. Neste seguimento, todos os pais têm sempre mais do que um nome em cima da mesa, ou duma estante, como alternativa para o batismo dos seus filhos. Com isto, se tivesses que dar uma outra versão alternativa ao teu nome de artista, que nome substituiria o Noiserv?
R: Em 2004 tinha um papel cheio hipóteses, mas foi esta inversão que me fez mais sentido.
Hoje em dia, não consigo imaginar outro nome para representar tudo o que já aconteceu e
tudo aquilo que espero que venha a acontecer.

2 – Quando ouvimos o nome Noiserv é inevitável não nos vir à mente o teu estilo tão próprio,
ao qual já nos habituaste: All-Stars e t-shirt/camisola às riscas. Como te surgiu esse look tão
arriscado, que se tornou na tua imagem de marca?
R: As riscas surgiram por superstição, lembro-me de logo no início ter dados uns concertos
seguidos sempre de riscas e comecei a sentir que tinha ali uma companhia de sorte e assim
ficou. Os all-stars têm uma justificação mais prática, calço o 46 e para conseguir ter definição
ao carregar em todos os pedais, os quais estão muito perto uns dos outros, precisava de uns
ténis finos e assim surgiram os all-stars.

3 – Achas que o facto de seres, o que eu gosto de chamar “canivete suíço da música
portuguesa”, te dá uma liberdade em palco mais expansiva e segura? Ou se, pelo contrário,
torna a tua atuação mais imprevisível e desafiante?
R: Estando sozinho e a forma como toco, que me expõe sempre muito no erro, acaba por
tornar sempre a atuação imprevisível e desafiante para mim e até para quem vê.

4 – Qual foi a sensação, se a conseguires descrever, (acredito que consigas), ao ver o teu mais
recente álbum, “Uma Palavra Começada Por N”, nomeado para melhor álbum europeu do ano
pela Impala?
R: É uma sensação muito boa, de reconhecimento por todo o trabalho que tive, mas não é
muito mais além disso. As provas verdadeiras surgem nos concertos, nos próximos discos, no
reconhecimento por parte do público em relação ao que já fiz e ao que venha a fazer no
futuro.

5 – Durante o período mais severo de confinamento, as lives do Bruno Nogueira acabaram por ser a companhia mais fiel dos portugueses. Tu que chegaste a pisar aquele palco, dividiste o ecrã com o Bruno, como avalias, agora, a tua prestação no desafio que te foi lançado por ele
enquanto meio país assistia? Muita pressão?
R: Foi uma brincadeira em resposta a uma provocação do Quadros, na altura não tinha muito a noção do alcance. Quando no dia seguinte todos me tinham visto a tocar em piaçabas teve
muita piada.

6 – Sabe-se que integras projetos como os You Can´t Win Charlie Brown e/ou TIPO. Apesar
dessa tua presença nesses projetos, nunca tiveste vontade ou necessidade de integrar
elementos no teu projeto ou sempre quiseste e queres que se mantenha algo a solo?
R: Noiserv será, tirando um ou outro momento, sempre um projecto a solo, um refúgio meu a
nível musical e criativo. Não por nenhum egoísmo, mas porque me sabe muito bem desta
forma.

7 – Quem vai aos teus concertos tem a oportunidade de, em muitos dos temas que tocas,
ouvir a explicação que esteve na origem das letras. A explicação que nos dás é estática e
intocável ou consegues ir encontrando novos significados para aquilo que outrora escreveste?
Ou seja, por outras palavras, consideras que as tuas letras conseguem ser mutáveis no seu
significado com o passar do tempo?
R: Tudo é mutável. A maneira como vemos a realidade muda com as experiências que vamos
tendo. Dessa mesma forma também as letras que retratam medos, ansiedades, histórias,
ideias podem ir mudando um pouco a percepção que tenho delas ao longo do tempo.

8 – Durante o teu percurso académico pertenceste à TUNA? Se sim, até que ponto consideras
que o facto de teres aderido à TUNA te alimentou, ainda mais, a fome pela música?
Influenciou-te e ajudou-te a teres as certezas que necessitavas para o teu futuro? Caso não
tenhas frequentado a TUNA, podes sempre dizer que sim e inventar o resto.
R: Nunca pertenci.

9 – É notório que tens apostado, com maior frequência, na língua mãe. Prova disso mesmo, é o teu mais recente trabalho. Apesar de te sentires mais confortável na língua inglesa, achas que este álbum serviu para inverter essa tendência? Isto é, sentes que a língua portuguesa é uma tendência que irás procurar manter em projetos futuros?
R: Não te sei responder. A língua inglesa ainda contínua a ganhar em número de músicas que
escrevi. Ultimamente é o instrumental da música que acaba por me levar para o inglês ou para
o português, como ainda não comecei a trabalhar num novo disco ainda não sei qual será a
escolha.

10 – Esta é uma questão mais técnica. É a parte em que os teus instrumentos recebem os
holofotes que tanto merecem. Ou seja, é um convite à apresentação dos instrumentos e do
material que mais usas nas atuações. Se não existirem segredos tão misteriosos como o da
receita do pão de ló, sente-te à vontade para dar a conhecer o teu arsenal de instrumentos.
(Podes e deves frisar marcas e modelos. Se é para catalogar é para catalogar).
R: Resposta longa e complexa, e de certa forma secreta. Resumindo, uso uma guitarra Gibson
e algumas outras/muitas/bastantes “coisas”, umas antigas outras novas, mas todas com
nomes e bastante personalidade.

11 – Já colecionaste e atuaste em múltiplos países. Isso significa que o nosso país tem estado
muito bem representado lá fora. Qual é a principal diferença que denotas entre atuar no nosso país e atuar no estrangeiro? Podes aproveitar esta rampa para divulgar aquele que foi o país que melhor te recebeu.
R: Acho que tenho tido a sorte de ser muito bem recebido em todo o lado. Não te consigo
destacar apenas um país, ou uma cidade, mas claramente os sítios onde toquei mais vezes
acabam por ter uma recepção mais calorosa e por isso em França e Alemanha, e claro Portugal, o público tem sido sempre incrível. Mas também nos outros lugares foi sempre muito bom, lembro-me que a sala na Turquia esgotou em 2 semanas, incrível.

12 – No meio de tantos e incríveis álbuns já lançados, a realização do soundtrack para o
filme/documentário “José&Pilar”, peças de teatro, temas para separadores de televisão, a
grande dose de nomeações para os mais variados tipos de prémios, entre muitos outros feitos. Diz-nos, o que é que te falta fazer e o que é que ainda ambicionas alcançar no futuro?
R: Quando gostas muito do que fazes, acabas por sentir que podes fazer sempre melhor, e por isso há um ligeiro sentimento constante de que falta tudo por fazer. Verdadeiramente, a única ambição é continuar a gostar tanto como gostei até agora e que quem me ouve possa sentir o mesmo.

13 – A tua merch, além de variada, é inusitada e original, por arrasto. Onde é que vais buscar a
inspiração para a tua merch ser uma autêntica ToyStore? E agora, para finalizar, deixa-nos aqui
um slogan apelativo, que tenha efeitos persuasivos para que quem estiver a ler isto se sinta
tentado a investir naquilo que de muito bom tens para vender. Só te cobrarei 10% de
comissões.
R: A inspiração acaba por surgir de todos os dias pensar, e pensar e continuar a pensar :P! Não
sou muito bom de slogans mas se alguém quiser alguma das minhas coisas ficará certamente
com um bocadinho do meu pensar diário dentro de casa, ou na varanda, ou no carro, ou ….
Extra – Obrigado por este bom bocado, Noiserv! Continua a dar-nos aquilo que nos falta!
Abraço.
R: Obrigado eu.

Não percas o quiz, em: Noiserv – Quiz | Cultura & Noção (culturaenocao.pt)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *