Quinta-Feira 12

Os Quinta-Feira 12 são a sorte que a Sexta-Feira 13 é incapaz de ter. A banda é constituída por: João Correia, Rodolfo Jaca, Pedro Freitas, Pedro Correia e Carlos Afonso. A base daquilo que esta banda consegue ser passa muito pelo papel desempenhado quer pelo João, quer pelo Rodolfo. Já levam muitos anos de estrada juntos em projetos mais hardcore, como The Year e My Cubic Emotion. Essa química e convivência fez com que este projeto visse e continue a ver a luz do dia e da tarde.

Neste projeto, o grupo não se define nem se fecha num determinado estilo. De certa forma, neste projeto encontramos uma maior liberdade e amplitude para uma adesão aos mais variados caminhos musicais. Em Quinta-Feira 12 temos acesso a um mundo eletrónico, algo acentuado ou algo verdadeiramente bonito. Escolham. As percussões são representativas desse mesmo mundo eletrónico que teima em ser solto. Para além das batidas, podemos delirar com os inúmeros efeitos introduzidos nos mais variados instrumentos. As músicas sacodem-nos o corpo, pelo que dizem e pela habilidade rítmica que nos emprestam. Apesar de em Quinta-Feira 12 tropeçarmos numa faceta mais melódica e abrangente, continuamos a sentir as influências do passado mais metalcore através do seguinte bode expiatório: voz do João. Este projeto patrocina a língua mãe e, como tal, merece todo o retorno do que é investido. É uma mudança radical que não poderia ter resultado melhor. A banda prova-nos que consegue mesmo chegar a todos os lados com a qualidade de sempre, aquela que lhes é facilmente reconhecida e aplaudida. Eu reconheço-a, conheço-a, e é por isso que este artigo existe. Só não aplaudo agora porque estou a escrever. No fim aplaudirei. Podemos dançar com este trabalho, sem saber ou a saber todos os passos. Só não passamos é com indiferença àquilo que nos é proposto. O ímpeto e a paixão são siameses. Não se largam por nada.

Em 2016, a banda estreou-se com o álbum “Fiasco”. Apesar da graçola já ser algo recorrente, este álbum foi tudo, menos um… fiasco. É irresistível, é como o som da banda. Neste álbum de estreia, toda produção foi levada a cabo pelo João e pelo Rodolfo. Neste detalhe, comprovamos aquela que é uma ligação de longa data, esta que culmina sistematicamente em êxito. Em “Fiasco”, encontramos canções seriamente viciantes e inovadoras. A “Carrinha Trágica”, rebenta com qualquer radar. A única tragédia é o som ter um fim. O videoclip da música tem uma incrível produção gráfica. A “Cabra-Cega” conta com uma introdução na bateria que nos diz, sem rodeios e com arte, ao que vamos. “Isidro Mãos-de-Canalha” é uma faixa mais dura e com um andamento mais nervoso, quer nas guitarras, quer na interpretação vocal do João. Chega a ser interventiva. A “Fiasco” traz consigo uma vertente mais acústica e referências oportunas, estas que se situam nos intervalos e “silêncios” da canção. A “Cobranto” permite-nos desfrutar da tristeza, ela que nos visita e existe. A “Madrasta” conta com a participação de Fuse. A “Toca e Foge” é tudo, menos de se fugir. Existem muitas outras músicas fixadas neste álbum, mas deixo-vos com esta rampa de lançamento para vos abrir o apetite. Talvez se fechem no quarto para ouvir esta recomendação.

Dois anos após a estreia, o “Fiasco” conheceu o seu irmão mais novo. O “Quase Pop” surge em tom de reafirmação. Enaltece e fortalece tudo aquilo que de bom foi feito anteriormente. Neste segundo álbum recebemos novamente diversas componentes eletrónicas. Estas que se acentuam por estarem sujeitas a reinvenções. Os mecanismos apresentam-se enraizados e seguros, e isso faz com que a banda seja cada vez mais universal. O single “Cama Rasa” arrasa. É como se este single fosse um resumo e um porta-voz do que álbum é capaz de nos entregar. É o tema de abertura que nos convence a ficar. O “Antes de Nós” é um som com inúmeras camadas. A canção “Das Duas Uma” é espacial e faz-nos viajar até lá, ao espaço. A “Moderada” é para ouvirmos sem moderação. Mais uma vez, o convite está feito para que vocês tenham a autonomia de ir ouvir o que este álbum e banda vos reserva. Esta reserva é boa, idêntica aos vinhos presentes na carta dos restaurantes.

Existe muita criatividade sonora a viajar nesta banda. É como se a banda olhasse para a pauta musical e optasse por não seguir as normas, por uma razão: por preferirem pautar pela diferença. Em cada canção sentimos um desafio que foi atravessado e superado. Sentimos que cada faixa é uma experiência diferente da anterior. Este projeto não conhece a zona de conforto, e isso é o que nos conforta.

As letras abraçam diversas temáticas, desde: o amor e quando ele se vê numa relação ou fora dela, o sistema, a fragilidade do ser humano, entre outros. É, não só possível, como muito provável que ao ouvir Quinta-Feira 12 nos identifiquemos com as mensagens que eles criam e nos fazem chegar. Sentimo-nos próximos do trabalho da banda por ela ter o condão de se saber aproximar de nós.

Ouvir Quinta-Feira 12 é ser testemunha de uma mescla de sons e influências. É saber dar valor ao que se faz no país e ao que bandas como os Quinta-Feira 12 fazem por nós. Tivemos o privilégio de ficar a saber em primeira mão e na entrevista que está disponível no site, que a banda planeia lançar, faseadamente, coisas novas. Podemos esperá-las ainda este ano, e não poderíamos pedir melhor do que o regresso destes rapazes.

Um especial agradecimento ao Rodolfo Jaca, este que se mostrou recetivo e bastante entusiasmado em contribuir para que o corpo deste artigo conseguisse ser volumoso. As tuas palavras valeram o 1º lugar nos Jogos Olímpicos, isto é, valeram ouro!

Não se limitem a ouvir Quinta Feira 12 apenas às Quintas. Quinta Feira 12 é para se ouvir a semana inteira. Domingos incluídos!

E agora sim, estou a aplaudir. Façam o mesmo!

Não percas a entrevista com os Quinta-Feira 12 aqui!

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