1 – A questão da praxe passa pela origem do grupo, como o mesmo surgiu e o que vos levou a adotar um nome tão bombástico como Bombazine?
O nome “bombazine” venceu pelo cansaço. Tínhamos o EP pronto a lançar e… nada de nome para a banda. Depois de cerca de 1500 sugestões — umas boas, outras nem por isso — decidimos adotar um regime de não oposição: em vez de procurar um nome que todos adorássemos – o que parecia ser impossível – escolheríamos um a que ninguém se opusesse. Estávamos juntos num fim de semana, e um dos Manéis trazia um casaco de bombazine até que o Vasco perguntou: “E se for bombazine?”. E ficou.
2 – Que outros nomes estiveram em cima da mesa para além de Bombazine? Bombazine escreve-se com maiúscula ou com minúscula?
Já tínhamos falado em “Bombarda” por causa de uma private joke com o Miguel Bombarda, mas parecia um feitiço do Harry Potter e alguns de nós não gostavam, por isso foi à vida.
Além de “Bombarda”, houve um caos criativo de nomes, mas nada colava. Quanto à grafia, “bombazine” escreve-se com letra pequena.
3 – Falem sobre o tão badalado processo criativo. O que é que vos surge primeiro? Melodia ou letra? Existe uma espécie de regra ou a vossa criação prende-se pela espontaneidade?
Não há regras fixas — varia muito. Mas o mais comum é nascer primeiro o instrumental, e a letra vir depois, montada por cima das melodias. As ideias costumam surgir a solo ou em duplas, e depois passam pelo crivo coletivo quando estamos a trabalhar os arranjos em banda ou mesmo em estúdio. É um processo espontâneo, mas com espaço para mudar.
4 – Até agora, qual é a história mais inusitada que, enquanto banda, podem contar sem colocar em risco a vossa liberdade?
A história talvez mais insólita até então é a da semana em que íamos tocar nos Maus Hábitos, no Porto. Na segunda-feira dessa semana nasce o bebé do Manel das teclas (um mês antes do previsto) e na quinta-feira – nas vésperas do concerto ao qual já iríamos desfalcados – o Manel da guitarra entra nas urgências com uma apendicite aguda para ser operado.
Resultado: o nosso Manel das teclas acabou por ter de vir ao concerto 3 dias depois de ser pai e o Manel da guitarra foi apenas em espírito (com as guitarras dele em backing track). Entre várias outras peripécias que aconteceram nesse dia, tudo acabou por se compor e foi uma noite espetacular.
Temos muitos momentos que nos fazem rir, nem que seja pelo lado “boomer” de alguns dos nossos membros com as redes sociais. Houve uma vez em que o Manel da guitarra ficou incumbido de fazer um post sobre um concerto que íamos no Tokyo em Lisboa, em conjunto com os Miradoura, mas conseguiu marcar na publicação uma senhora chamada Palmira Dourado (cuja conta se chamava “Miradoura”) e anunciar que o concerto se iria realizar em Tokyo, no Japão…
A verdade é que somos um grupo que se diverte muito, rimo-nos bastante uns com os outros, e talvez o maior desafio seja interagir com o público — ou somos tímidos, ou saímos demasiado formais.
5 – Como foi a vossa experiência no Festival da Canção? Façamos um exercício, um daqueles que vai buscar o nome do programa da RTP, até porque foi ela que vos convidou. Prós e Contras do Festival da Canção?
O Festival foi inacreditável. Foi difícil de gerir com os nossos trabalhos e vidas pessoais em termos de timings e logística, mas talvez o maior “contra” seja o facto de os instrumentos estarem em playback, o que pode dificultar um pouco a performance enquanto banda e colocar maior pressão no vocalista. Mas os “prós” ganham por larga margem: a exposição, as amizades musicais que vão ficar, a sensação de entrar para o inconsciente coletivo musical português e até mesmo para a história do próprio Festival, entre outras coisas positivas. É daquelas histórias que se contam aos netos.
6 – Têm algum ritual antes de subir a palco? Alguma coreografia? Alguma poção ou bebida etérea?
Antes do concerto damos sempre um abraço coletivo e dizemos: “É só mais um ensaio.” Há uma ideia meio ritualística de que nunca é um concerto, é sempre só mais um ensaio entre amigos. Depois do concerto, temos os nossos rituais alquímicos. Antes, às vezes, só um copinho para descontrair e ficar mais solto.
7 – Qual é o vosso principal objetivo na indústria musical e que metas pretendem atingir a médio-longo prazo?
O maior objetivo já foi cumprido: lançar as nossas ideias e entrar no mapa musical português.
De resto, queremos continuar a estar na música apenas para fazer o que gostamos, sem fretes ou necessidade de atingir este ou aquele público ou passar nesta ou naquela rádio.
8 – Qual é o vosso palco de sonho? (Para além do palco principal e único, nos dois sentidos, da Noção?)
Há um sonho partilhado desde que a banda existe — tocar no palco principal do Paredes de Coura. É o festival do nosso grupo de amigos, e alguns de nós já la foram várias vezes nos últimos 15 anos, por isso seria mesmo simbólico. Costumamos dizer que se isso algum dia acontecer, as nossas almas evaporam ao estilo dos jedi no Star Wars, ficam só as roupas em palco e a banda acaba.
9 – O regulamento da banda obriga a que 80% dos elementos tenham o nome Manuel ou é mera coincidência? Como fazem para distinguir o Manuel do Manuel e o Manuel do Manuel?
Sim, temos esse regulamento interno: o nome Manuel tem de estar em maioria. Já pensámos se os outros não deviam mudar de nome também. Para distinguir: cada um pode ser Manel mas só um é o Nelo, outro é o Figas, e outro às vezes é “Manek”, do planeta Namek.
10 – Quais são os maiores desafios em estúdio para gravar um som?
Talvez o primeiro grande desafio seja o de concretizar a visão idílica que temos na cabeça em relação a determinada música. Muitas vezes a concretização parece não chegar perto desse ideal, mas por vezes há surpresas que nos levam para outro caminho e as coisas até resultam melhor.
Outro dos desafios é a gestão do tempo. E a pressão de fazer tudo dentro desse tempo. Com outros trabalhos em paralelo, torna-se um verdadeiro exercício logístico.
De resto, adoramos o processo e somos muito cuidadosos com a produção — temos uma grande amizade com o nosso produtor, o João Sampayo, o que ajuda imenso a manter tudo fluido.
11 – Do que têm memória, qual foi a música que demorou mais a ser finalizada e, paradoxalmente, qual foi a música mais rápida na sua concretização?
A que mais custou foi a “Dias de Azar”, do nosso EP. Teve várias estruturas, letras e melodias de voz, e esteve até para sair do alinhamento, mas acabou por se tornar numa das melhores (para nós) do nosso repertório.
Do último disco a que demorou mais a finalizar foi a “Enquanto a música durar”. Ironicamente o refrão foi das primeiras ideias a surgir para o novo disco mas depois a letra demorou mais de um ano e foi a última canção a ser gravada.
A mais rápida? Talvez Samba Celta ou Tábua Rasa — esta última surgiu quase de rompante, com a letra praticamente a escrever-se sozinha.
12 – Esta é uma questão mais gig, onde podem spammar as marcas e modelos dos vossos instrumentos. O Rick Rubin gosta deste tipo de conteúdo, e eu faço-lhe as vontades. Que material usam?
Por questões de logística adotamos desde o início que adotamos uma abordagem sem amplificadores. Para guitarras e baixo só usamos os chamados “modelers” digitais que façam essa emulação sendo o HX Stomp da Line 6 o elemento comum aos três. Nas guitarras e baixo, a Fender é a marca predominante entre os três: ao vivo o Vasco usa normalmente uma Stratocaster, o Manel uma Jaguar, e o Filipe um Jazz Bass. Só o Vasco é que tem outras marcas entre a sua coleção de 147 000 guitarras e baixos. Gosta sempre de dizer que esta ou aquela guitarra é que têm o som “OG” de bombazine mas depois acaba sempre por voltar à Stratocaster.
No que toca a teclados, usamos 4 em palco. Um Nord, um Juno, um Moog – do lado do Manuel Figueiredo – e um teclado MIDI ligado a um PC – do lado do Vasco.
A bateria varia entre uma Yamaha Beech Custom e uma Stage Custom. Para bares e clubes também usamos um bombo de 20″ da Sonor mais antigo. A tarola é uma Ludwig Supraphonic e os pratos Zildjian.
13 – Se pudessem fazer um dueto, com quem fariam? Com os Anjos? (era uma piada, só faço este parênteses porque eles podem não perceber)
Em Portugal, há vários nomes com quem gostaríamos de trabalhar: B Fachada, Jorge Cruz ou Emmy Curl seriam alguns deles.
14 – Quais são as vossas principais influências? E como se sentem por serem unanimemente considerados os Parcels da tuga? Pessoalmente, também vejo toques de B Fachada nos vocais.
Bem apanhado. Quer os Parcels quer o B Fachada são artistas que seguimos de perto e nos influenciam. Mas também há influências de artistas como Ornatos Violeta, Capitão Fausto, Madrepaz, Red Hot Chili Peppers, Daft Punk ou MGMT ali pelo meio.
15 – Qual foi o melhor concerto que assistiram enquanto espectadores?
Vamos colocar de fora os diferentes concertos que vimos individualmente (até porque vamos sempre divergir entre nós) e mencionar um a que assistimos todos: Bala Desejo em 2023, nas Caldas da Rainha. Ficámos absolutamente boquiabertos.
16 – Quais são as vossas expectativas para o Poço de Noção?
Esperamos muita natureza, boa gente e boas energias. Estamos muito entusiasmados.
17 – Três bons motivos para ninguém faltar ao vosso concerto?
Primeiro: bater o pé — vamos fazer a malta dançar.
Segundo: uma viagem melódica à música tuga — estamos cá para a celebrar.
Terceiro: ver uma banda ao meio da natureza é sempre um bom programa — e Portugal tem do melhor que há nesse campo.
