Quem é este Martin Courtney? É possível que reconheçam a voz do mesmo… mesmo sem saberem quem ele é pelo nome. Martin Courtney é o vocalista dos Real State. Para quem tiver passado montanhas e montanhas de tardes a jogar FIFA conhece os Real State como a palma das mãos, literalmente. Quantos 11 iniciais não foram feitos a ouvir Real State? Tantos!
Este álbum, “Magic Sign”, é o segundo a solo por parte de Martin. Convém salientar que, este disco, foi desenvolvido e escrito no período da pandemia. Mais um. Este foi, por ventura, o período mais inspirador para os artistas. Período esse, em que Martin, se viu afastado dos restantes membros dos Real State. Acabou por ter tempo e espaço para compor música duma forma mais genuína e intimista. Este é o resultado audível dessa mesma fase. Muito daquilo que este álbum é foi escrito enquanto os seus filhos estavam a dormir e enquanto a sua esposa estava no hospital a cumprir os seus turnos. Ou seja, este detalhe atribui uma certa vibe poética ao lirismo do disco. Uma cena de filme. Espero que o Martin fume. Acho que um cigarro aceso ajuda para que seja impingido um ambiente ainda mais cinematográfico nesta descrição.
Este disco fala-nos, sobretudo, das suas memórias. Aquela adolescência perdida e em que as borbulhavas eram fáceis de encontrar na testa, as fases etárias transitórias e a sua vida em Nova Jérsia. Chega a afirmar que, na sua cabeça, está em 1999 a andar de bicicleta. Uma espécie de máquina do tempo. Apesar da viagem ao passado, o Courtney mantém-se sempre superficial, ou seja, não procura aprofundar muito esta ou aquela temática. Deixa as coisas de maneira a que as mesmas possam ter diversas interpretações.
Eu sei que isto que se segue não tem nada a ver mas, uma altura, em pleno secundário, andava a enviar músicas a uma miúda pelo qual estava apaixonado. No meio daquela playlist interminável, lembro-me que, numa noite, lhe enviei um tema dos Real State, o “Darling”. Ou seja, até eu acabo por navegar até ao passado ao ouvir este disco do Courtney. A voz dele mantém-se igual. Querem saber se ela gostou da música, não é? Pois bem, gostou!
Neste álbum, podemos encontrar temas como: Outcome, Corncob (o meu preferido), Mulch, entre outros.
Neste segundo disco, a solo, a incidência acústica acaba por ser menor. Este é um álbum, todo ele, macio como creme hidratante da Garnier. Alerta patrocínio! Alerta tentativa de obter patrocínio!* A regularidade deste trabalho é o adjetivo definidor do mesmo. Não existiu propriamente um risco adjacente à sua construção. Denota-se segurança e consciência naquilo que foi feito e é, também, com segurança que posso afirmar que este é um disco que nos sabe fazer companhia como poucos. Isto, mais do que ser música ambiente, faz com que o ambiente seja inevitavelmente bom devido ao perfil da música e do seu estilo. Este indie rock é oportuno, “silencioso” e, por vezes, hipnotizante. A “Shoes” é prova dessa mesma hipnose. Parece que nos descalça e desarma. Este disco é capaz de nos transmitir calma e a suavidade presente nos detalhes. Frase filosófica, não? Talvez. Mas basta ouvir o disco para perceber a ideia da coisa e a beleza da coisa presente na ideia.
Se existem discos que merecem muitas mais views, este é um deles.
Ouçam! É importante saber ouvir!