Como é que se começa? Introdução realizada com total distinção! Como podem ter percebido pelo título, hoje o álbum eleito para ser alvo duma review bem digna é o “Bonito Serviço”, da banda lisboeta Alves Baby. Acho que será uma review soberba. Gosto de colocar este tipo de pressão sobre mim. Gostos são gostos e, por falar neles, quem gostar dos Alves Baby tem muito bom gosto!
Convém salientar, ou então, sublinhar caso tenham uma caneta vermelha à mão, que este álbum sucede o EP “Rissol Aquecido” lançado pela banda há uns bons dez anos. Os membros integrantes neste projeto são os seguintes: Hugo Pinto (bateria), André Sousa (guitarra) e André Sousa (guitarra). Enumerei de forma aleatória os membros da banda, não sou muito fã de hierarquias, mas sim de improvisos.
Os Alves Baby situam-se no universo instrumental e amplo, onde existe uma criatividade adjacente a uma liberdade musical. Os estilos que sustentam a odisseia do grupo são o rock, o shoegaze, chill wave, space rock, entre muitos outros, aqui entre nós. Dito isto, só por esta semi-apresentação, temos inevitavelmente um excelente cartão de visita em mãos para visitar o projeto do grupo. Ah… o cartão de visita não é para estar na mão, mas sim no ouvido. Reza a lenda que é consideravelmente melhor quando assim é.
Agora, vamos para um curto intervalo e já regressamos…
Sempre sonhei em desenvolver um momento televisivo clichê em texto. Consegui!
Quanto ao “Bonito Serviço”? Aqui vamos nós…
- “Bonito Serviço” – Um som que nos leva numa epopeia, numa travessia para longe do deserto e para perto de um local bonito. Se o deserto pode ser um local bonito? Pode. Então, se assim é, este som também nos pode conduzir até ao deserto. Este som traz-nos uns malabarismos do baixo bastante eficazes, que nos agitam as harmonias do corpo. A guitarra surge, logo de seguida, com um solo enérgico e energético, como se tivesse acabado de ingerir Power Wade. Quer se dizer, acabado não, que temos de dar ainda um tempo para que o mesmo faça efeito. Neste som, acabam por morar diversos temas. É como se estivéssemos a ouvir uma jam session, imprevisível, sem nunca sabermos o que se seguirá. A magia deste som é mesmo essa: o sobressalto! Este serviço é, sem dúvida, bonito! Livrem-se de achar que a expressão “Bonito Serviço” contém qualquer tipo de advertência.
- “Sarrafo” – Abram os guarda-chuvas que está a chover. A guitarra aqui surge-nos com um riff misterioso. Aliás, a intro desta música dá-me vontade de fumar e eu nem sequer fumo. A percussão faz-se sentir de forma bastante desinibida. São muitos os pratos que nos acertam. Por esta altura começou a trovejar. Assim como o estado do tempo que é bem audível, o clima instrumental adensa-se, com aparições hardcore impossíveis de nos semearem indiferença. Segurem-se. Quando pensarem que o tema acabou, eis que nos surge mais uma batida. Pum!
- “YEEEHAWWW” – Espero não me ter enganado a escrever o nome desta música. E uma boa cowboiada? Pois, é isso que este som é. Até dá vontade de ver, novamente, os filmes do Sergio Leone. Pára tudo… o som recomeça a meio. Toda a pressa inicial é colocada de parte, na dispensa. Colocamos o pé na embraiagem e agora estamos situados numa divisão menos barulhenta, mas muito confortável. A conexão dos e entre os instrumentos é notória. Sem darmos por isso, estamos mergulhados na segunda parte do tema que nos reserva, uma vez mais, coisa muito pouco previsíveis, sólidas, fortes e determinadas. A complexidade do que para aqui vai é qualquer coisa e não uma coisa qualquer. Entre o Bom, o Mau e o Vilão? Este som. Porquê? Porque é bom!
- “Dose de Cavalo” – Somos visitados por uma veia ligeiramente mais eletrónica. Talvez eletrónica seja um termo “incorreto”. Se é “incorreto” porque é que não apagaste, Rui? Porque não me apeteceu. Aquilo que eu pretendo transmitir ao dizer que é algo mais eletrónico é que é algo mais mexido, como alguns ovos também o são. Temos aqui hiperatividade. Esta dose de cavalo não nos deixará a dormir, ouçam sem medo e sem cavalo. Ou com, é uma escolha vossa.
- “Granada de Água Benta” – Já ouço vozes. O mood deste tema não espera, nem pede licença. Somos inundados com algo cru e impetuoso. Todavia, a meio do tema é-nos dado tempo para respirar. Surge uma guitarra que me faz lembrar coisas de Dead Combo. A água desta granada não causa estragos, é limpa. Sejam atingidos por ela!
Para terem acesso à review dos temas que faltam, deste disco, adiram ao Patreon… Estou a brincar, mais tarde sairá uma segunda parte. Por enquanto, fiquem com este postal que já têm muito para ler. Quer se dizer, se chegaram aqui, já vão ter pouco para ler.
Os Alves Baby transportam um som com personalidade, com espaço interpretativo, na medida em que posso ser o realizador dos filmes que bem entender e quiser. Tudo se enquadra na nossa imaginação. Os Alves Baby são muito isto, liberdade na criação e entrega na íntegra.
Aproveito aqui para reconhecer a humildade de todos os elementos da banda, o gesto generoso e a crença na minha escrita para dar a conhecer este projeto. O disco é incrivelmente bonito, a construção é soberba. Fiquem a saber que já vi edifícios a serem construídos de forma mais lisonjeira do que a estética incrível deste “Bonito Serviço”. As t-shirts da banda também são a garantia de que o estilo nunca te escapará!
Ouçam que vale a pena e o tempo!