Take I (e único)
1 – Olá Pálidos, espero que gostem deste ambiente, até porque este é o meio escolhido para chegar até vós. Os sofás são bonitos e confortáveis, só não se sentem em cima das almofadas. Feita a introdução, Pálidos, contem aquela que é a vossa história. Isto é, como e quando surgiu a ideia de ingressarem no mundo da música?
R: Olá Rui! Em primeiro lugar queríamos agradecer o convite para esta entrevista, é um prazer podermos estar aqui a falar contigo.
Voltando à pergunta, surgiu por volta de 2015 no festival Paredes de Coura. Ao início a banda era constituída apenas por 3 elementos: o João Afonso (na guitarra ritmo), o Nuno Coelho (na voz e guitarra solo) e o Manuel Duarte (na bateria), apesar de já nos conhecermos todos, a banda foi ficando completa ao longo do tempo. Partilhávamos todos o mesmo gosto pela música e foi muito natural a forma como aconteceu tudo. Frequentávamos todos a mesma faculdade, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e o mesmo curso, Engenharia Informática, na Caparica, até que uns meses depois começámos à procura dum baixista para termos a formação com os instrumentos “completos”. Um dia, a meio duma aula, em vez de estarem todos com atenção, surgiu em conversa com o André Guerreiro poder vir a ser o baixista e assim foi. Após algumas composições e vários concertos iniciais, achámos que precisávamos dum teclista a tempo inteiro. Veio primeiro o Filipe Freire no final de 2017 e saiu por volta do Outono do ano seguinte. O Cláudio Pascoal entrou assim para o seu lugar.
2 – O “Fim Do Nada” é, paradoxalmente e por outro lado, o início de tudo. Este é o vosso primeiro álbum e aquela que é a vossa apresentação mais formal. Como é que foi o processo criativo desta estreia e consequente trabalho?
R: Antes deste álbum, lançámos dois EP’s (“EPá Lindo” de 2019 e “No Mar de Marte” de 2020), ambos trabalhos produzidos por nós, o primeiro com mistura e masterização do Manuel e o segundo do André, foram trabalhos mais focados no rock clássico e surf-rock, mas já com elementos do psicadelismo. Com isto, tínhamos já algumas canções claramente mais na onda do progressivo e do psicadélico, como por exemplo a ‘Assado’ e a ‘Memória’, e sempre tivemos na ideia fazer um EP ou álbum mais focado nestes géneros. A partir daqui foi um processo normal, vimos as músicas que tínhamos e ao estruturarmos, reparámos que tinham em comum o mesmo tema de memórias e tempo, isto porque cada canção teve a letra escrita por três elementos diferentes da banda. Surgiu então a ideia de criar um álbum conceptual.
3 – O vosso álbum, ainda que recente, tem recebido críticas muito positivas do público. Com que expectativas encaram este ano e, por outro lado, de que tamanho é a vossa fome de subir para cima do palco e reproduzirem este disco ao vivo?
R: [Risos] Para começar, é algo que nos tem deixado muito contentes, saber que as pessoas que têm ouvido têm gostado muito. Para nós, estando ainda no início da carreira, tem sido uma sensação
inexplicável saber que já um número bastante significativo de pessoas se identificou com alguma canção e que lhes despertou também algum tipo de sensação. É algo muito forte e o que nos faz a todos gostar tanto de música. Por estes motivos, por ser também o nosso álbum de estreia, por ter sido um projeto que nos deu imenso trabalho, por termos estado imenso tempo sem tocar devido à pandemia, podemos dizer que a vontade é gigante de subir ao palco e podermos levar as nossas novas canções a cada vez mais gente!
4 – Se nos pudessem fazer um Cartão de Cidadão, neste caso, um Cartão de Som, que identidade e estilo atribuiriam à vossa sonoridade? Ps: Não precisam de fornecer os dados da altura e do peso do som.
R: [Risos] Boa questão. Nós temos muita diversidade musical dentro da banda, acabamos por gostar de muita coisa em comum, mas ao mesmo tempo cada um de nós tem os seus próprios estilos que gosta de explorar. Como referimos há pouco, os nossos primeiros EP’s são mais na onda do surf-rock com elementos psicadélicos e este primeiro álbum é claramente mais progressivo e talvez até, arriscaríamos dizer, com um pouco de jazz fusion à mistura. Diríamos que a atribuir um estilo será sempre o rock com todas as suas variações psicadélicas, surf e progressivo.
5 – A vossa estreia surge, invariavelmente, no meio desta temporada incomum que nos é comum a todos. Produzir um álbum tendo como uma mãe esta pandemia, trouxe-vos desafios adicionais na produção e edição do álbum?
R: Sem dúvida. Começámos a pré-produção do álbum no final de 2020, e calhou logo ali com o início de 2021 com mais um confinamento. Alguns de nós moram na margem sul e outros em Lisboa, sendo o nosso estúdio em Oeiras, os ensaios tiveram de parar, pois nem se podia atravessar a ponte. Apesar de ser trabalho (exceções que autorizavam sair-se do concelho de residência), não é visto como tal, infelizmente. Esta situação atrasou logo um pouco, mas assim que foi possível retomámos uns meses mais tarde. O nosso baixista, André Guerreiro, assumiu as rédeas da produção e desta vez queríamos também melhorar a qualidade das nossas misturas e ter alguém de fora também a dar os seus pontos de vista. Neste aspeto foi fantástico trabalhar com o Pedro “O Arauto” Carvalho que teve a responsabilidade das misturas e masterizações, assim como co-produtor do André e achamos que todas as dificuldades foram ultrapassadas. Estamos muito contentes com o produto final.
6 – Quais são as fontes da vossa inspiração? Quais são as vossas referências nacionais e internacionais?
R: Outra pergunta boa que nos podia fazer estar aqui a falar até amanhã [Risos].
[André] As minhas inspirações são mesmo muitas… com influências do meu pai, cresci com Genesis, Pink Floyd, Supertramp e até Ena Pá 2000! Adoro Iron Maiden, lembro-me de ter para aí os meus 8 anos e ouvir a “To Tame a Land” deles e ficar fascinado com toda a sonoridade. Foi, por isso, a banda que me fez querer aprender um instrumento e assim foi quando recebi a minha primeira guitarra clássica como presente do meu irmão mais velho. Outras das minhas muitas importantes influências, para além das bandas que já mencionei, são: Steven Wilson, Rush, Bill Withers, Beatles, The Doors, Camel, Richie Kotzen, Meat Loaf, Dream Theater, Led Zeppelin, Lynyrd Skynyrd, Mastodon, Tool, etc, etc… Em Portugal talvez as maiores serão Rui Veloso e António Variações.
[Nuno] Para mim, o grande amor, desde que eu comecei a ouvir música como deve ser, sempre foram os blues. A forma mais simples de expressão humana. Muddy Waters, T-Bone Walker, Elmore James,
Freddie King, e tantos outros que não me consigo cansar de ouvir. Também tive muito carinho sempre por toda a década de 60 na música americana no geral, conhecendo muito pop da altura, mas favorecendo o psicodelismo que começava a aparecer: 13th Floor Elevators, Doors, Quicksilver Messenger Service, Jefferson Airplane e por aí; por outro lado, o Surf e garage rock, que caracterizou os primeiros sons dos Pálidos. De artistas atuais, King Gizzard, The Oh Sees, Meatbodies, Allah-Las podem servir como exemplo de entrada.
[Cláudio] Sempre foi difícil para mim explicar de onde vem a minha inspiração visto que as bandas ou artistas que refiro são super diferentes entre si. Eu procuro as combinações de sons, melodias, ritmos e letras que, independentemente das suas complexidades, me fazem construir um sentimento ou um pensamento; algo que me arrepie ou que me faça contemplar algo à minha volta. Provavelmente é o que acontece a toda a gente e é uma definição que toda a gente se identifica… Mas para mim, no leque de artistas que mais puxam por mim nesse sentido estão os Tool, relaxadamente pesados; Hiromi Uehara cuja técnica e sentimento ao usar o piano são incríveis; Frank Zappa, tocador, compositor contador de histórias fora da caixa; a lista continua e inclui Tom Jobim, Mac DeMarco, L’Imperatrice, Jungle e mais… Não há nenhum género musical que me faça torcer o nariz, desde que a música em si me abane de alguma forma.
[Manuel] Para além dos “Irmãos Lello e Companhia Ltda.” e do “Escaravelho da Foz do Arelho”, as minhas maiores referências são bandas clássicas como “Beatles”, “Pink Floyd” e “Led Zeppelin” ou os mais modernos “King Gizzard & the Lizard Wizard”, “Vulfpeck” ou “Snarky Puppy”. Apesar disso, reconheço valor musical em quase tudo o que ouço, desde Psy-Trance, música clássica, Fado ou Pop e acabo por ser inspirado um bocado por tudo sem discriminação. Abaixo o elitismo musical!!!
[João] As fontes de inspiração são variadíssimas. Desde o jazz ao rock, do country ao pop, da electrónica ao clássico. Sem dúvida que a música no geral está presente na minha vida desde muito novo, não só com outras bandas e projetos musicais, mas também com influências como Pink Floyd, King Gizzard & the Lizard Wizard, The Thunderbeats, Allah-Las, Beatles, Dire Straits, Mystic Braves,
Creedence Clearwater Revival, The Doors, Franz Ferdinand, Arctic Monkeys, AC/DC, Parquet Courts, Zeca Afonso, Capitão Fausto, Jorge Palma, Ornatos Violeta, UHF e Rui Veloso.
7 – Esta é uma questão mais técnica. É a parte em que os vossos instrumentos recebem os holofotes que tanto merecem. Ou seja, é um convite à apresentação dos instrumentos e do material mais usado pela banda. Se não existirem segredos mais misteriosos do que a receita duma boa lasanha, sintam-se à vontade para apresentar o vosso arsenal musical. (Podem e devem frisar marcas e modelos. Se é para catalogar é para catalogar).
R: [João] Uiui aqui vamos. Nas guitarras divido-me entre uma Epiphone Les Paul Black Beauty e uma Dan Electro Dead On 67. Quanto ao amplificador fico-me por um Bugera v55 com 80W a válvulas, spring reverb e FX Loop, aconselho. Quanto à magia dos pedais segue a lista, Dunlop Crybaby classic para o wah estridente, Boss FV-50L para controlo de volumes, MXR Dynacomp porque é o melhor compressor do mundo, Mooer Green Mile para o overdrive doce, TC Electronic Rusty Fuzz para o fuzz puro e duro, Electro Harmonix Memory Boy para viajar nos chorus e vibratos, Mooer Ninety Orange para mergulhar no phaser dos anos 90, e TC Electronic Pipeline para sentir as ondas de um surf tremolo. Quanto às palhetas, gosto das amarelas.
[Cláudio] Ainda não tenho um arsenal de sintetizadores… Ainda… E por enquanto o que tenho vai cumprindo o seu propósito. De momento uso um Roland Juno-Di para tudo nos concertos, é um sintetizador antigo com os timbres comuns da Roland que podem ser editados criando sons completamente novos. Ele tem muito potencial, e eu vou aprendendo cada vez mais a tirar o proveito máximo dele. Os órgãos que ouvem nas nossas músicas são do Yamaha Reface YC, que é um teclado
pequeno e vermelho, mas com grande potencial também para dar um som vintage a qualquer música. No nosso novo álbum podem ouvir os sons de orquestra obtidos pelo plugin BBC Symphony Orchestra da Spitfire Audio que acabou por tornar as nossas cantigas um pouco mais épicas e preenchidas.
[Manuel] Uso uma bateria Pearl Export com bombo de 22 polegadas, tom de 13 e floor tom de 16, bastante simples e eficaz. A tarola arranjei à parte, porque acredito ser a alma da bateria e acho que vale a pena investir mais nisso, pelo que comprei um Tama S.L.P. Big Black Steel, de 14 por 8 polegadas. A nível pessoal sou fã de tarolas de metal, acho que têm um tom metálico que, se for controlado, corta muito bem a mix e sendo esta uma tarola mais profunda do que o normal consegue ainda ter um certo “unf” nos graves que poderia perder por ser de alumínio.
Em termos de peles, usei sempre a marca Remo Emperor Coated em cima com Remo Ambassador Clear em baixo. As emperor têm duas camadas e são coated, o que ajuda a naturalmente abafar a nota específica do tambor ficando um som mais de pancada seca, mais “rock”. As Ambassador de uma camada vibram melhor e ajudam a prolongar ligeiramente e dar mais vida ao embate inicial. No bombo uso a Remo Powerstroke 3 coated, com o pedal Tama Iron Cobra 600 Duplo (nunca se sabe quando é que os Pálidos decidem ser mais metal). O meu setup de pratos consiste em hi-hat, 2 crash (um de 16 e outro de 18 polegadas) e um ride. De momento todos são da linha Paiste 7, que penso soarem muito bem custando muito menos que marcas ou linhas mais conceituadas (os pratos são sempre a maior dor em termos monetários) com exceção do ride que é um Zildjian K Heavy Ride de 18 polegadas que encontrei em segunda mão. Por fim, toco sempre com baquetas Vic Firths Aj4, porque têm um ponto de equilíbrio mais para trás que o normal que eu prefiro e ao qual acabei por me habituar, ou então uso maletas suaves da Meinl para sons ambiente nos pratos.
[André] Para os graves da banda, desde 2020 utilizo um Ibanez Talman. Para o nosso primeiro EP de 2019, usei um Fender Squier Jazz. Amplificador uso um Ashdown de 180W e complemento com uma DI para gravações. Neste nosso primeiro álbum contribuí também com um solo de guitarra e utilizei uma Fender Stratocaster.
[Nuno] A minha fiel Epiphone ES-339 Orange Sunburst que me acompanha desde o início. Para amp tenho um Champion 100, agora velhinho, e a minha pedaleira tem um setup mui simples: um Green Mile da Mooer, um booster da Mooer, um afinador e um pedal multi efeitos TC Electronic The Dreamscape. Tudo sujeito a expansão!
8 – Porquê o nome de “Pálidos”? Foi por todos os membros da banda carecerem de horas de exposição solar ou o nome da banda deriva de outro motivo? Sei que esta questão, por norma, é introdutória. Porém, a regra aqui é a imprevisibilidade e é, também por isso, que ela só emerge nesta fase mais adiantada.
R: Aquando das inúmeras experiências do festival Paredes de Coura, onde começámos a banda, havia um estado comum entre os participantes, uma Pálida feição. Com tal observação, banda e amigos adotaram a expressão – “Estás com uma pálida…”. De tal modo, numa das inúmeras tertúlias veio à mesa o tema: Qual o nome para esta “grupeta” musical? Nisto, surge uma voz distante que vislumbra o conceito, a imagem, a perfeição – “Pálidos”.
9 – Do ponto de vista estético, a capa do vosso álbum induz-nos para a palavra “Limonada”. O trocadilho aconteceu de forma propositada ou foi algo que aconteceu inconscientemente? Se não houver nenhuma explicação lógica para a limonada, contentamo-nos com o café. Caso haja explicação? Força!
R: Alguns elementos da banda são fãs de trocadilhos e gostaram da ideia de fazer-se uma ligação do título “Fim do Nada” com a nossa canção “Limão” que consideramos uma viagem, assim como todo o resto do álbum. Queremos que peguem num refresco e desfrutem do início ao fim.
10 – Oportunidade para que, cada elemento, faça uma breve apresentação. Como se estivéssemos no primeiro dia de aulas, estão a ver? Digam quem são, o que gostam de fazer ou o que fazem e divulguem a vossa banda preferida. Para primeiro dia de aulas parecem-me bons tópicos.
R: [André] Posso começar eu. As saudades que eu tenho desses primeiros dias de aulas. [Risos]
Ora então, sou o André Guerreiro, os meus amigos chamam-me André ou Guerreiro, a minha mãe chama-me André Ricardo quando se aborrece comigo. Sou baixista dos Pálidos e neste álbum contribuo também com as minhas skills, ou não, de guitarra e toco o solo do nosso single “A Brisa Passa”. Para além do tempo em que estou a fazer, ouvir e pensar em música, gosto de praticar os mais variados desportos, sendo o favorito, o clássico: futebol, em que também sou adjunto no grande Charneca de Caparica FC!
[Cláudio] Sou o Cláudio Pascoal, mas podem chamar-me Pascoal, e, para além do trabalho em informática, tento fazer música, aprender novos instrumentos, experimentar comida nova e explorar sítios novos. Adoro animais e espero que um dia consiga abanar as pessoas com a minha música, tal como as minhas fontes de inspiração fazem comigo! Vamos ver…
[Manuel] Olá, o meu nome é Manel (Zé Marmelo para os amigos) e gosto de sexo, drogas, música e convívios. Sou um marmelo que para aqui anda a fazer música (Pálidos e URSE) enquanto não ando a trabalhar para pagar as contas. A minha banda preferida são os “King Gizzard & the Lizard Wizard” e quando for grande quero ser um falcão peregrino.
[Nuno] Olá! Eu sou o Nuno. Estou na guitarra principal e na frente do palco a cantarolar. Durante o dia sou Engenheiro Informático, à noite sou bandido e ladrão. Gosto de jogar, gosto de comboios e gosto de tudo o que é verde exceto o Sporting, brócolos e esparregado de espinafres. Curtes?
[João] Olá o meu nome é João Pedro Afonso, tenho 26 anos, sou natural de Castelo Branco e esta é a minha primeira reunião nos alcoólicos anónimos. Na vida o que me aquece mais o coração é a música e a natureza selvagem. Faço Escalada, surf e skate. Toco vários instrumentos pois música faz-se com qualquer coisa. Sou bom rapaz, sociável e bem-disposto. O meu signo é Touro com ascendente em Escorpião. Gosto de boas conversas e almas peculiares. Beijo
11 – Aqui, podem referir algo que considerem pertinente e que eu me tenha esquecido de perguntar. Podem, também, criar um slogan de forma a sugerirem o vosso álbum de forma apelativa. Marketing.
R: Gostaríamos de agradecer novamente por esta entrevista e a todos os que leram, que tenham gostado do bocadinho e esperamos que o nosso novo álbum seja tão especial para vocês como é para nós. A quem interessar, o “Fim do Nada” está à venda em formato físico e digital na nossa página do bandcamp. Sigam-nos nas nossas redes sociais e subscrevam no Youtube, que quantos mais melhor e ajuda a que um dia possamos beber um café à conta da nossa música! [Risos]
Obrigado Pálidos!