Até que enfim… é aquilo que me apetece dizer e disse. O álbum de estreia de Far Caspian, também conhecido pela família como Joel Johnston, já se encontra disponível em todas plataformas digitais. Far Caspian é, para mim, um dos maiores rostos do universo alternativo. Assim como muitos artistas, o irlandês Far Caspian é um dos exímios exemplos de alguém que é, não só dotado, como polivalente na arte musical. É produtor, multi-instrumentista e cantor.
Apesar de residir, maioritariamente, em Leeds, o “Ways To Get Out” foi gravado na sua casa de infância, em Fermanagh, no ano passado. Pode-se dizer que foi uma maneira de não sair da sua terra natal. A ideia do álbum passa por recordar com ingenuidade os tempos mais prematuros da juventude. Mais do que esse exercício de memória, este disco também se insere na fase de transição que, todos nós, enfrentamos até atingir a idade adulta. Ou seja, é um álbum que reflete as indecisões, incertezas e inseguranças que nos são comuns, ou foram, em determinado momento. Neste álbum acompanhamos a mudança e a consequente evolução. Somos vítimas do tempo. Far Caspian, confessa ainda que o álbum pode ser aquilo que o ouvinte quiser. Se eu quiser que ele seja um isqueiro? Pode ser. Esta identidade abstrata acaba por ser boa porque nos concede a permissão de pegarmos no álbum e contextualizá-lo, com liberdade, naquilo que a nossa vontade e disposição quiser.
O disco é particularmente extenso. Contém cerca de 47min de duração e, inserido no álbum, encontramos ainda feats com outros artistas. “I´m Not Where I Need”, calma… vocês estão onde deviam estar. Este som começa com uma guitarra acústica, o que é uma tendência que vamos, daqui a pouco, comprovar e sublinhar ao longo de todo o álbum. As vozes visitam-nos com eco, como se estivessem enclausuradas nas escadas de um prédio. No refrão somos inundados com um coro e nele somos agradavelmente surpreendidos por uma sobreposição de vozes e pela entrada, sem pedir autorização, das percussões. A confusão agita-nos. A “Pretend”, é um feat com BOYO. Nesta faixa encontramos o som eletrificado das cordas com acordes soltos e ritmados. A harmonia desta música é pretendida e cumprida na perfeição. Um instrumental arrebatador! Das minhas preferidas de todo o álbum. A “Get Along”, é a primeira faixa onde sentimos o mundo eletrónico com maior severidade. Porém, a guitarra junta-se, mais uma vez ao Ramalhete e é insistente naquele que é um riff e dedilhado repetitivo, mas que, habilmente, alimenta a química com as batidas aceleradas e convincentes. Não me alongo muito mais, mas é uma grande faixa. Agora, escolham o sentido da palavra “grande”. “Following The Trend”, aqui a tendência é a qualidade. Conta com uma filosofia musical mais introspetiva e que preenche os vazios, os nossos inclusive. Esta música se tivesse que ser uma mão, seria uma mão que estaria estendida para nós. É a celebração da melancolia. Sigam esta tendência. “Attempt”, mais uma tentativa bem sucedida em fazer música. Sentimos que a guitarra vai viajando entre os trastes com subtileza. Um som movimentado, que nos remete no meio duma cidade em hora de ponta. É pujante e tão bem construída esta tentativa! “Our Past Lives” é mais um feat, desta vez, com SOMOH. Mais uma vez, a guitarra acústica assume o papel principal no tema e decora bem a letra. Aproveitem, e escolham também o sentido da palavra “decora”. Aqui, o som produzido na guitarra acústica é notoriamente feito com a abstinência de palheta. Sentimos o dedo e a forma macia e suave com que a guitarra acompanha as vozes. Esqueçam o passado, o presente desta música é ser tímida e íntima. Que doce! “Brother”, nesta sonoridade contamos com um irmão mais velho, uma vez que é um som maduro. A bateria estremece as nossas colunas, mas elas foram concebidas para esse mesmo fim, por isso, usem-nas. “Moon Tower”, aqui o som contrasta com aquilo que, até aqui, fomos tendo. Um som mais pesado e grave. Definitivamente, o que rodeia esta lua é a escuridão. O baixo é o porta-voz desta faixa. No entanto, a última metade da música é mais alegre do que aquilo que o poderíamos prever. Divide-se em dois moods, daí o contraste. O refrão atinge-nos em loop. “Questions”, já que fazem questão, a resposta para esta questão é múltipla. Aqui, provamos a magia dos sintetizadores. Eles que habitam no refrão com cor e sobressaem do resto do instrumental para nos entrar pelos ouvidos dentro. Eletrificado e eletrónico, bem-vindos ao êxtase! O final do tema é o equivalente ao estarmos submersos e com água nos ouvidos. “Built By Design”, é um design que podia ter sido elaborado no Brasil. A identidade do tema faz-nos lembrar os cantautores brasileiros. A entrada do piano, nesta faixa, romantiza ainda mais a mesma. Som curto e que curto. “Plans”, têm bons planos? Se não tiverem, apresento-vos este que é bom. Batidas e guitarradas empáticas. “Reach You”, sonoridade que chega até nós e que exalta um misto de cansaço e esperança. É pacífico e podíamos imaginar, facilmente, o Thom Yorke a cantar este tema. “House”, é um som caseiro e que fecha a porta do álbum. Linha de baixo firme. O som termina com a inclusão de instrumentos de sopro. Também eu fiquei a soprar após este review.
É este o álbum pelo qual tanto se esperou. Os EP´s do Far Caspian sempre foram promissores e recheados de talento. O tema “Dream Of You”, por exemplo, é simplesmente lindo! Por isso, confesso que a minha curiosidade em navegar neste álbum era considerável. O Far Caspian merece os parabéns e merecia vir a Portugal! Podem ouvir algumas das canções deste álbum, tocadas ao vivo, no The Nave.
Ouvir este álbum duas vezes é o melhor que temos a fazer. Assim, ficamos mesmo com a certeza de que ouvimos um dos melhores álbuns do ano! Far Caspian não desilude, simplesmente cumpre!