Foi no início da pandemia, em meados de Março de 2020, que fomos brindados com a canção “Bem Estar”. Este mesmo som, foi retirado do EP que seria mais tarde lançado, o: “Teorias do Bem Estar”. Apesar de nos encontrarmos confinados conseguimos ter, desde logo, a perceção de que iríamos ter no Filipe a companhia ideal para enfrentar e contornar as adversidades impostas pelo tempo.
Em Maio, desse mesmo ano, o tão desejado “Teorias do Bem Estar” conheceu, por fim, o público. O talento do Filipe sempre esteve à vista de todos e, sobretudo, sempre esteve nos ouvidos daqueles que já eram fãs dos Zanibar Aliens. Neste projeto a solo, confirmamos todas as premissas que ele sempre nos indiciou. Sempre foi um guitarrista exímio e continua a ser, mas aqui, apercebemo-nos do quão extenso é o seu domínio musical, este que vai muito para além da guitarra, de toda a técnica e estilo que lhe são inerentes. “Prejuízo”, “Sem Ser Sincero”, “Outro Caminho”, “Bem Estar”, “Lágrimas” e “Bem Capaz” são as faixas que compõe o EP de estreia. A expectativa para um EP de estreia é, por norma, quase sempre nula. Não existe uma referência propriamente dita, daí estarmos sistematicamente sujeitos ao efeito surpresa que é comum a todo o tipo de estreias. Aqui, a estreia e a surpresa foi das boas. Todavia, mesmo que existisse uma expectativa em torno deste EP, era mais do que seguro afirmar que ele teria superado qualquer expectativa, independentemente das proporções que a mesma poderia ter tido.
Enquanto ouvimos o projeto do Filipe, viajamos numa máquina que não é do tempo, mas que teima em ser da música. Somos arrastados para as décadas de 70 e 80. Ouvimos personalidade em cada instrumento. A fluidez do som e a conexão existente entre todos os elementos sonoros são de deslumbrar. Situamo-nos naquela época, por ela ser tão bem executada e representada nas mãos e voz com que ele nos presenteia. As influências daquela época são abundantes. A nostalgia está presente. Os instrumentais transportam-na e, de repente, sentimos saudade de uma época que não nos viu ou teve. Em termos estéticos, a influência primordial provém dos Hall & Oates, como o próprio já teve oportunidade de confessar em entrevista.
Os instrumentais vestem-se com letras minimalistas e sucintas, estas que facilmente são remetidas para o nosso dia-a-dia. Existe uma espécie de filosofia alegre e encorajadora, que é sistematicamente albergada em cada letra. Em termos sonoros, o facto de as letras conseguirem ser tão maleáveis permite que a mensagem seja captada com prontidão. Fica tudo agarrado ao ouvido e, sem darmos realmente por isso, somos induzidos para um mood esperançoso, onde a solidão é inexpressiva. É como se estivéssemos perante uma voz amiga ou conselheira. A universalidade dos versos é o que dá destaque e identidade às letras. Acaba mesmo por ter o seu quê didático.
No final do ano passado, foi lançado o segundo EP, o “Modéstia À Parte”. O corpo deste EP é constituído por: “Quero Ver”, “Razão”, “O Início”, “Novos Tempos” e “A Paragem”. Este trabalho foi mais desafiante no que toca ao seu processo criativo, uma vez que, nas costas dele estava o “Teorias do Bem Estar”, que culminou num sucesso justo e merecido. Foi recebido e digerido com muita curiosidade e entusiamo, logo o “Modéstia À Parte” teria, em relação ao trabalho anterior, uma responsabilidade acrescida. A responsabilidade não atrapalhou, até porque este segundo lançamento em cada segundo é um convite a ficar e a continuar a ouvir. É uma confirmação e uma garantia para a música nacional, e não estou a ser modesto.
No decorrer deste ano, em Maio de 2021, foi lançado o “Vento Levou”, que é mais uma faixa certeira e apetrechada com a qualidade do costume. A qualidade, essa, é o carimbo mais fidedigno daquilo que o Karlsson tem para nos dar. “Vento Levou” é como uma brisa, onde a dinâmica, essa, é mais uma vez fortalecida através da recriação nostálgica dos sons característicos das épocas que já frisei a norte deste artigo.
A leveza das músicas faz com que o processo de composição musical seja orgânico, simplesmente, tudo acontece com naturalidade. Apesar da nostalgia, isto é, em simultâneo, inovador. É uma inovação que se transforma numa necessidade de ouvir e repetir. O Filipe nasceu no berço da pandemia para nos salvar dela. É, sem qualquer tipo de dúvida, um nome que irá continuar a dar muitas e boas cartas. Não precisamos de ficar baralhados quanto a isso, só temos de nos deixar levar por quem nos traz algo que é tão bem produzido. Algo que é produzido é, por norma, algo que vai sair. Exceto neste caso, uma vez que esta produção não nos sai da cabeça, e ainda bem.
Um nome a ter em conta e que terá sempre muito mais para nos contar. É obrigatória a adoção das canções do Karlsson nas vossas playlists. Só assim o vosso Verão fará sentido e é só. Não percam tempo quando podem conquistá-lo a ouvi-lo.