Entrevista – Dream People

1 – Dream People, façam de conta que estão a usufruir do sofá mais confortável da Moviflor. A pergunta da praxe, como não poderia deixar de ser, incide-se naquilo que é a origem da banda. Como e quando, vocês se juntaram e decidiram construir o projeto Dream People? E outra, porquê o nome Dream People?


R: Dream People antes de o ser, teve muitos nomes que não podemos revelar sob pena de sermos julgados pela opinião pública. Chegámos a andar FNAC adentro em busca de conjugações interessantes de palavras em livros, CDs, e que nos dissessem alguma coisa e que pudessem servir de nome, mas isso não aconteceu claro. O nome surgiu finalmente num dia calmo na praia, do nada honestamente, quando não estávamos à procura dele. Dream People são as pessoas que vivem apenas nos nossos sonhos, mas pode servir de crítica a algum alheamento/futilidade que se faz sentir na sociedade atual.
Quando ainda não eramos Dream People, o Francisco, vocalista, andava a procura de gente que pudesse dar vida às suas ideias. Como não conhecia musicos, colocou um anuncio no facebook. Ao anuncio respondeu o Nuno, guitarrista. A partir daí e sempre através das redes sociais, a banda foi ganhando forma.


2 – A vossa estreia, enquanto grupo, foi feita através do lançamento do EP “Soft Violence”. O feedback obtido, não só por cá, como também e principalmente em Espanha, foi notoriamente positivo. Esperavam, no contexto de estreia, que o vosso trabalho fosse reconhecido de imediato pela crítica?


R: Sim e não. Acreditamos muito na nossa música e sabemos que tem potencial para chegar a todo o lado e por isso, ser bem recebida não foi visto com algo natural para nós. O que surpreendeu foi o reconhecimento chegar logo com o primeiro EP, o que nos deixou muito contentes e motivados.


3 – A vossa sonoridade não tem uma identidade fixa. Tanto temos e conseguimos detetar nuances de dream pop, como um rock com resquícios do mundo indie e melancólico. São inúmeras as atmosferas oferecidas pelo vosso resultado musical. Não estamos no Registo, mas estamos no local indicado para falar de identidades. Desta feita, como rotulam o vosso som?


R: Estamos a caminhar para uma identidade mais definida. O que ouvem nas nossas músicas até agora é uma banda a encontrar-se. Esse processo de definição de identidade vai ficar para sempre nestes 2 primeiros discos e servirá de testemunho para o futuro. Queremos muito fazer algo verdadeiramente novo e para isso é inevitavel que tenhamos que crescer enquanto pessoas e músicos e que isso aconteça diante dos olhos e ouvidos do público. Até aqui, é como dizes, fazemos uma mistura de dream pop com indie pop. Já para o álbum que prevemos lançar até ao fim de 2022, estamos verdadeiramente a chegar onde queremos. Um dream pop/shoegaze que que mistura Air, Sigur Ros, e muitas outras referências.


4 – O segundo disco não tardou a nascer. O “Almost Young” é o título do vosso último trabalho. Este trabalho, como outros tantos, surgiu no meio desta distopia pandémica. Como tal, quais foram as dificuldades, além das óbvias, que sentiram durante os períodos mais adversos para a divulgação do vosso trabalho? As plataformas online foram as vossas únicas aliadas nesta guerra, ou existiram outros meios para contornar a pandemia? Falem-nos da vossa tática.


R: A maior tática é mesmo muito foco e trabalho. TIvemos tambem a sorte de ganhar uma bolsa do Município de Cascais, que muito ajudou a finalizar o disco e a promovê-lo. Sorte, trabalho e estarmos rodeados de uma excelente equipa, com o Manuel Chau (manager) na dianteira, foram a nossa tática.


5 – O “Almost Young” é um álbum quase jovem e, ao mesmo tempo, quase adulto. As músicas relatam aquela que é a fase transitória, quase geracional, que todos nós, mais cedo ou mais tarde, acabamos por enfrentar. A ideia por trás deste vosso disco foi a de fazer um resumo da evolução que nos é inerente? Ou seja, vocês conseguem produzir algo que nos serve enquanto somos bebés e viciados em chupetas, como nos serve enquanto adolescentes no pico da puberdade e com borbulhas na cara e, por último, enquanto pessoas sérias e maduras, no expoente máximo da vida adulta. Em suma, este disco é muito sobre as fases e de como as sentimos e vemos, ao longo do tempo. O que é que vos motivou a seguir esta estrada no disco?


R: Sim, é um disco que procura resumir uma fase onde nos encontramos neste momento: o ser-se quase jovem, mas saber-se que nunca mais se poderá voltar a esse tempo. É um disco sobre perder camadas, mudar de pele, sair do casulo confortável da vida pré-trabalho, pré-obrigações. Alguns de nós já fizeram a transição e, parecendo que não, é um caminho que dói. Quisemos espelhar essa dor/frustração nas músicas.


6 – As vossas letras abordam temáticas mais sensíveis e, em simultâneo, oportunas. Tanto nos falam sobre religião, como sobre o amor. Tudo temas que nos são comuns. Cada música consegue dar boleia a esta ou aquela aprendizagem. É a vida que inspira a vossa veia lírica?


R: É a vida que inspira a nossa veia lírica e por estranho que pareça o inverso também é verdade. A veia lírica influencia a vida. Por vezes sinto (Francisco) que as letras que escrevo são estranhamente proféticas.


7 – No que toca ao futuro, quais são as vossas projeções e planos? Se existirem coisas bonitas para acontecer, quer a curto, quer a longo prazo, sintam-se na liberdade de nos proporcionar tal exclusividade.


R: planeamos lançar o Live on Mars até ao fim do ano nas plataformas digitais, um single no inicio do ano, outro single a meio do ano, e um novo álbum até ao fim de 22.


8 – Existe uma relação coesa entre a vossa produção musical e visual. Por exemplo, na “Talking Of Love”, a produção visual foi levada a cabo pelo Francisco. O concílio das duas artes é algo que vos fascina e, por consequência, é uma tendência que será para manter?


R: F: Fascina-me não tendo recursos conseguir ser “resourceful” e encontrar uma maneira honesta e verdadeira de exprimir por imagens aquilo que musicamos. É um grande desafio e implica muitas muitas muitas horas de pesquisa em todo o lado. Será tendência para manter? Talvez. É bonito mas dá muito trabalho.


9 – Esta é uma questão mais técnica. É a parte em que os vossos instrumentos recebem os holofotes que tanto merecem. Ou seja, é um convite à apresentação dos instrumentos e do material mais usado pela banda. Se não existirem segredos tão misteriosos como o da receita da Coca-Cola, sintam-se na vontade de dar a conhecer o vosso arsenal de instrumentos. (Podem e devem frisar marcas e modelos. Se é para catalogar é para catalogar).
R:
Nuno (gtr e synths):
Uso uma guitarra Fender Jaguar e os pedais que uso mais para dar o som de dream people é o Hall Of Fame e o Memory Man. Nos synths uso um teclado Midi da novation a controlar o Ableton com VST’s da Arturia
Diogo (bat):
Uso uma Taye Studio Birch com três timbalões. Quanto a pratos, uso quatro, cada um da sua marca, sendo elas Paiste, Sabian, Zildjian e Meinl.
Bernardo:
Da minha estação espacial, os maiores responsáveis pelo timbre que uso em Dream People são o Boss Space Echo, um pedal de delay imprescindível e fantástico que consegue sozinho criar ambiências; o EHX Soul Food, para quando a música precisa de alguma “agressividade “ na guitarra; e o Eventide Space com toda a sua panóplia de reverbs eternos. O Korg Microkorg é também grande culpado, pois uso e abuso dos string/pads que fornece, brincando muito também com os knobs de cutoff e ressonância.
João:
Para o meu som no baixo uso um jazz bass, modulado normalmente pelos pedais boss bass chorus, dark matter e spectra comp, mas também tenho um bass equalizer para resolver problemas. Para as 2as vozes uso sempre o meu sm-58 e quando necessário modulo com um Boss VE-20
Francisco: comecei agora a usar para a voz um microfone SE Electronic V7X que gosto bastante.


10 – Quais são os temas/bandas que ouvem com mais frequência? Cada elemento da banda pode fazer uma mini playlist e partilhá-la. As sugestões são sempre bem-vindas.


R: Temos gostos muito muito variados honestamente. Todos gostam de Radiohead, Slowdive, etc. Temos a playlist conjunta perfeita para ti.


11 – Por último, até esta data, qual foi o tema que vos deu mais dores de cabeça na sua construção e porquê? Se vos der ainda mais trabalho falar sobre ele, podem sempre optar por falar sobre o tema que vos surgiu de forma mais espontânea e natural. Escolham.


R: Almost Young. Tem 8 minutos, varias secções, partes de spoken word, partes “operáticas”/épicas, etc. Nada nada fácil de desenvolver. O tema que nos surgiu de forma mais natural ainda não ouviram. Estará no álbum. À medida que nos habituamos a tocar uns com os outros tudo se torna mais fácil e “oleado”.


12 – Esta questão não é uma questão. É um espaço em que, se quiserem, podem falar sobre algo que não me tenha ocorrido perguntar. Por isso, escrevam sobre o que quiserem, como se estivessem no Grupo III, da ficha de avaliação de Português.


R: Só agradecer-vos e pedir-vos desculpa pelo atraso na entrega da entrevista. Todos trabalhamos e não tem sido fácil… Lá está… É a transição. Ainda nos estamos a ambientar a estas novas duras carapaças.

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