A 4ª Edição do Poço de Noção teve lugar nos dias 25 e 26 de Julho, no local habitual: Praia Fluvial do Poço do Frade, em Cabeceiras de Basto.
Esta edição pautou por um cartaz bastante eclético e abrangente, sobretudo, no segundo dia. No seu cardápio, o festival trouxe bandas como bombazine, Best Youth e The 113.
Os bombazine, banda oriunda do sul, fez questão de trazer um alinhamento para nos fazer perder o norte. Com o seu indie rock caloroso, as nuances funky e “tight”, fez com que o quinteto proporcionasse um concerto bastante colorido e digno de inúmeros elogios.
Uma mescla entre o EP de estreia do grupo, “Grã-Matina”, o mais recente álbum “Samba Celta” e, claro está, o grande êxito levado ao Festival da Canção, “Apago Tudo”. Pode-se dizer que foi uma autêntica viagem deambulatória entre o EP e o álbum.
O grupo, ao vivo, acrescenta diversos solos aos temas, numa espécie de recriação musical para uma performance ainda mais complexa e convidativa. Esta característica é funcional pela sua imprevisibilidade e bastante apetecível, especialmente, para os fãs de guitarra. Nesse aspeto, destaque para o Vasco Granate que ficou encarregue de fazer aquela guitarra suar e, o que é certo, é que sou muito muito bem. Tecnicamente, a banda revela muito potencial nos mais variados departamentos. Além disso, e em tom de curiosidade, o quinteto é o grupo com o maior rácio da palavra “noção” nas suas letras.

O Filipe Andrade é um baixista exímio, na “Conto às Pedras” o slapping dele fez lembrar o Flea e, na vibe funky de bombazine, o baixo e os graves são realçados sistematicamente. O Manuel Protásio assume um papel preponderante nas linhas melodiosas e rítmicas, discreto mas aos ouvidos mais atentos bastante incisivo e engenhoso. O Manuel Granate marca o andamento dos temas através da sua percussão eficaz e embutida numa química segura. O Manuel Figueiredo transporta para as suas teclas os lápis de cor da Giotto e da banda, com pedaços de harmonias e detalhes que maquilham a bem maquilhar os arranjos musicais. Ficou, assim, completo o hat-trick de “Manéis”. Em entrevista com a banda, questionei a mesma se era uma espécie de requisito os membros do grupo terem tendencialmente o nome Manuel. A resposta, essa, poderão encontrá-la no link: bombazine – Entrevista | Cultura & Noção
A banda fez Cabeceiras – Lisboa, porém, a mesma tem tudo para chegar ainda mais longe.

De seguida, subiram a palco os Best Youth. O duo portuense composto por Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves fizeram aquilo que melhor sabem fazer: Criar um ambiente único!
Navegaram por inúmeras fases criativas da sua carreira, desde temas do mais recente e conceituado “Everywhen”, como canções de álbuns como: “Highway Moon” e/ou “Cherry Domino”. A Catarina Salinas provou, mais uma vez, o porquê de ser considerada uma das grandes intérpretes do nosso país. Uma presença e voz que teimam em ser inconfundíveis e que a levam sempre a performances que fazem dela uma verdadeira artista e ícone. A parelha com o Ed resulta de forma inexplicável e, nem indo às aulas de apoio, conseguimos obter explicação para este fenómeno de palco. A química, o charme, o misto de rebeldia e sensualidade fazem dos Best Youth uma das referências nacionais com todas as características e capacidades para o serem também lá fora. Portugal é demasiado pequeno para tamanho projeto.

O dream pop do grupo proporcionou, no palco da Noção, um dos melhores concertos da história do festival. Uma identidade única no panorama nacional, sempre acompanhados por texturas dançáveis e carismáticas. A fusão da eletrónica com as cordas da guitarra e a simbiose da natureza com a arte no seu estado mais puro e quente. É tudo orgânico e natural. Se quiser utilizar uma metáfora meio gastronómica, posso dizer que ouvir Best Youth é como comer batatas fritas: apetece sempre mais uma.
Os Best Youth são isto e muito mais, porém a tarefa fica difícil pois as palavras não conseguem fazer jus ao que foi testemunhado e àquilo que a banda faz sempre que sobe a palco.

O profissionalismo alia-se a toda uma estética que possibilita ao duo entregar um espetáculo robusto nas mais variadas vertentes e foi isso que aconteceu mais uma vez. Reza a lenda que, na hora do concerto dos Best Youth, o IPMA lançou um alerta de temperaturas extremas na região.

Por último, no que toca a bandas, os The 113. A primeira internacionalização do festival que coincidiu com a estreia do grupo em Portugal, nesse mesmo fim-de-semana. Britânicos de gema e que fizeram questão de deixar a sua energia bastante clara.
O dia com o grupo começou cedo e foi repleto de acontecimentos que ficarão guardados com muito carinho por parte da organização da Noção. Assim que os The 113 chegaram ao norte, alguns elementos da organização estavam a petiscar bolinhos de bacalhau, panados e finos num tasco a 25km’s do recinto. A manhã, já longa derivado dos soundchecks, fez com que o apetite fosse um tema sério às 15h da tarde. O grupo juntou-se a nós e passámos um belo serão. No caminho, até Cabeceiras de Basto, levámos os britânicos a conhecer o mítico troço do Confurco e, consequentemente, do Rali de Portugal, fazendo parte da gravilha e indo até às ventoinhas. Tendo em conta o calor que figurava nessa tarde, estar um bocado junto das ventoinhas pareceu-nos o mais sensato.

A banda delirou assim que viu a bandeira da Escócia no alcatrão, fazendo-os (re)lembrar o emblemático Colin MacRae. De seguida, na chegada à vila, demos-lhes a conhecer a impetuosidade do Mosteiro S. Miguel de Refojos e ainda fomos a uma loja para comprar uma t-shirt ao Jack. A sede apertou e embarcámos em mais um café da praça. Nessa pausa, o Jack confidenciou que durante a viagem assistiu ao Forrest Gump. Por entre finos e charutos, a chegada ao recinto deu-se pelas 17h, mais tarde do que o previsto, mas são as designadas contingências hospitaleiras.
Em palco, o pós-punk do grupo oriundo de Leeds não deixou ninguém indiferente. As sonoridades apoteóticas a transbordar uma energia quase nuclear provocaram ondas na praia fluvial.

O EP, “To Combat Regret”, ainda fresco e acabado de sair no primeiro trimestre deste ano foi tocado de fio a pavio, sendo o grande mote desta estreia.
As raízes “punkianas” que, paralelamente, se inserem num rock mais experimental e alternativo transformaram a atuação numa experiência sensorial assinalável pela sua intensidade, audácia e tenacidade. O sotaque british empresta um cunho quase cinematográfico, digno de casting de Trainspotting, e que emerge das profundezas do estilo que é brilhantemente explorado por eles.

Já com a t-shirt da merch da Noção aos ombros, o Jack, assumiu as rédeas do microfone com peculiaridade e autenticidade. O Josh, baixista, constrói as pontes na estrutura sonora. O punk refugia-se muito na sagacidade do baixo e nos The 113 isso é perfeitamente audível. O Picton tem umas pilhas inesgotáveis, deve ser por isso que é ele que fica encarregue da bateria. O Louie faz da guitarra um instrumento com muita personalidade e complementa perfeitamente as toadas do Jack. São conhecidos como: “O grupo onde o punk encontra a poesia”, e nós ficámos a perceber o porquê dessa afirmação.

A fome da banda em palco foi capaz de mobilizar pessoas de vários pontos do norte do país. Quem se deslocou e teve oportunidade de assistir a esta estreia não se arrependeu, seguramente. Uma banda que qualquer apreciador de boa música deve ter no radar de agora em diante, pois os próximos passos prometem ser promissores, passo a redundância. A banda teve oportunidade de confidenciar que está a trabalhar em material novo e, como tal, a expectativa é grande para ouvir o que aí vem. Um concerto fantástico e que ficará, de igual modo, num parágrafo que enche a Associação Cultura & Noção de orgulho!
Para fechar a noite em beleza, tivemos o privilégio de receber os ritmos felinos do DJ Kitten. O João Vieira dispensa apresentações. Não podíamos pedir melhor maneira de coroar todos os concertos que tivemos anteriormente.
Passaram ainda pelo palco da Noção: DJ H-AIF, G-ADAS, The Droogs, Brutus e The God is A Pineapple.
Um especial agradecimento a todos os artistas, sem exceção, pela simpatia e generosidade. Não é “só” a questão de serem extremamente talentosos, é também o facto de todos eles serem pessoas incríveis que guardaremos com a maior consideração, respeito e amizade. Uma edição icónica do Poço de Noção!
Alinhamentos:
bombazine: Carapaça, Cartago, Dias de Azar, Continuar Assim, Conto às Pedras, Até Três, Pó, Carubina + Mente Sã, Semtempo, Já Posso, Jam + Apago Tudo, Tábua Rasa, Samba Celta, Pouca Dura.
Best Youth: Everywhen/Eternal Love, Ace Of Pleasure, Back With a Bang, Change Your Life, Midnight Rain, Into The Blue, Out Of Time, Cool Kids, Rumba Nera, Part Of The Noise, Mirrorball, Nightfalls.
The 113: Backpedaler, Futility, Rats, Vacant, Inside, Idle, Too Awake, Nothing, When I Leave, Presence, Fatigue, Conscience, Pretend.










